Certa vez estava numa dessas rodas de rua, onde a molecada fica toda reunida, discutindo sobre tudo. Nessas rodas eu colocava um limite em minha mente: Se começarem a falar de carro, mãe ou bosta, é porque o assunto já está na merda. Num dos papos, um dos rapazes disse que havia "ido" com uma moça conhecida nossa. A primeira reação de todos foi pedir - assim como em qualquer aglomeração feminina com a pauta "fofoca" - que contasse mais. Ele contou. Disse onde foi; como e quando, mas ele titubeou e nós fizemos pressão:

- Que foi cara, conta aí!
- Ahh, sei não.
- Conta!
- Meu... Ela peidou.

A reação foi mais eufórica quando comparada aos detalhes da noite. Muitos riram acreditando, muitos falaram que ele estava de brincadeiras e outros, assim como eu, cogitamos que o papo estava estranho. Ele terminou:

- É sério... Eu dei uma bronca e ela disse 'quem mandou me dar garapa’!

Delírio Geral. Anos e anos se passaram, porém se eu encontrar algum que estava aquele dia e lembrar desse assunto, de imediato este afirma e relembra os detalhes. Talvez alguns vão dizer que isso é normal e outros argumentarão que viram a prima comentando com a irmã um caso desses na "Marcia Goldschmidt".

O que me fez lembrar de tudo isso foi a coluna do Marcos Magno (Falar Brasileiro), na Caros Amigos de março. Ele descreve todo o seu repudio ao modo autoritário, dogmático e extremamente preconceituoso (sic) que Luiz Sacconi trata a "língua certa" no Brasil. Com punhos de aço em prol da extinção do falar ao modo dos baianos; dos idosos; dos petistas e analfabetos, todos esses, segundo Carlos Magno, são "asnos" para Sacconi.
Carlos Magno, sem remorso algum, acaba com todas as bases de Sacconi com um golpe apenas. Este:
No dicionário escolar de Sacconi, peidar-se significa "soltar gases pelo anus involuntária e repetidamente, principalmente no momento do coito". Ora essa, Sacconi, assim como o personagem lá em cima, acredita cegamente que o som expelido da mulher durante o ato sexual é um peido. Sim, o som que ele ouviu durante todas as suas relações, durante toda a sua vida sexual, para ele, era proveniente de uma força inexplicável, onde o acumulo de gases nas entranhas saltava sem explicação alguma.

Muitas vezes, provavelmente, ocorreu um certo desconcerto. “Poxa, moça, calma-lá” e a rapariga sem alternativa: “Foi o doce-de-leite”.

Não passou alguma vez pela cabeça dele que este “efeito sonoro” era fruto de ares acumulados na vagina da mulher?
Agora, tudo isto está inserido num dicionário escolar. Seu filho pode estar às vezes no começo de sua vida sexual pensando: Porra, elas poderiam segurar, né?
Esse tipo de explicação, ainda mais em um dicionário, pode também criar uma legitimação em grande escala. As meninas lêem e tomam isso como verdade; os meninos idem. Deve estar dificultando relações, invertendo lados e criando pré-conceitos por onde passa. Pode-se dizer que muitas garotas vão achar que a culpa foi da garapa; Muitos podem estar em rodinhas detalhando o desastre.
Muitos, assim como eu, podem achar que isso tá estranho... Mas e os outros que não pensaram assim?

1 comentários:

Anônimo disse...

Haha, adorei o comentário!
Também li a coluna do Marcos Bagno. Achei muito estranha essa definição do Sacconi e resolvi fazer uma pesquisa no Google, foi assim que cheguei a este site. Que absurdo! haha
Pior que por um momento ele até confunde, poxa será que era isso? haha...Pobres crianças! Ainda bem que não vi essa definição quando eu era inexperiente, pois, realmente, poderia ter gerado traumas!

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